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Foto do escritorAmanda Haikal

Drogas e disputa de egos: o verdadeiro motivo para o fim do RPM na década de 80

O RPM foi a maior banda de rock brasileira da década de 80. Na sua formação principal, o grupo teve Paulo Ricardo na voz e no baixo, Luiz Schiavon no teclado, Fernando Deluqui na guitarra e Paulo Pagni, o P.A, na bateria.



Em maio de 85, a banda lançou o LP de estreia "Revoluções por Minuto". No lançamento, a banda também já era conhecida por ‘Louras Geladas’, inicialmente lançada como single. No ano seguinte, já com sucesso consolidado, a banda lançou o álbum ‘Rádio Pirata Ao Vivo’ e teve 2,5 milhões de cópias do disco vendidas.


A história do RPM foi marcada pelo sucesso estrondoso e o fim da banda foi encaminhado por episódios que causaram antipatia generalizada entre o meio musical e o público. Decisões mal planejadas, falta de administração financeira e desacertos no convívio entre os membros foram problemas causados pelo êxtase da fama e intensificados pelo uso excessivo de substâncias ilícitas.


Com uma rotina exaustiva de shows e um espírito jovem, libertário e “rebelde”, característico década de 80, o uso dessas substâncias se tornou comum. Pelo alto retorno financeiro da banda, a compra era facilitada, e a fama atraia os vendedores.


O livro Revelações por Minuto, uma biografia de Marcelo Leite de Moraes, conta que os músicos começaram o consumo de drogas em 1984, o ano de formação. Segundo o autor, até 86 o consumo não afetava a rotina da banda. Porém, pelo sucesso do álbum recém lançado no ano, o consumo, tanto de bebidas alcoólicas, quanto de substâncias ilícitas, se tornou problemático. Marcelo descreve que, como o sucesso estava estrondo, os músicos não estavam preocupados com a “etiqueta”. Em reuniões com patrocinadores e donos de gravadoras, era comum os membros estarem embriagados. A substância que mais afetou a relação entre os membros do grupo foi a cocaína. Relatos do livro de Moraes revelam que eles consumiam a droga até nos banheiros das rádios que ia dar entrevistas.


No programa ‘O Som do Vinil’, apresentado por Charles Gavin, ex-baterista dos Titãs, P.A contou que a banda viveu o lema “sexo, drogas e rock and roll” intensamente. No livro ‘Dias de luta: o rock e o Brasil dos anos 80’, o baterista detalhou a situação contando: “escrevíamos RPM com o pó [da cocaína], era pó que não acabava mais”.


Em 1986, um dos casos que afetou o destino da banda foi a prisão de Paulo Ricardo por porte de maconha. A revista Veja, do Grupo Abril, programava uma capa com a banda, mas cancelou o plano por causa da prisão. Nessa época, com um cachê de U$150 mil, a banda decidiu não ser mais administrada pelo produtor Manoel Poladian. Por falta de gerenciamento nos negócios e divergências de opiniões decisivas, a banda se separou em 1987. No documentário ‘RPM: Quatro Coiotes’, exibido no canal Bis, Deluqui contou que a droga também influenciou a separação momentânea por motivar um espírito intolerante e reativo.


Em poucas semanas, a banda decidiu reatar, e por conselhos de Luiz Carlos Maluly, que já havia trabalhado com o grupo no álbum de estreia, Os músicos se isolaram em uma casa em Búzios para trabalhar no disco ‘Quatro Coiotes’.


No começo de 1988, a banda embarcou para Los Angeles, onde a obra seria remixada. Porém, antes de chegar ao destino, P.A passou mal e precisou ser levado às pressas a um hospital em uma das cidades de conexão do voo. Pelo consumo exagerado e acumulado de drogas, mas principalmente de bebidas alcoólicas, o baterista foi diagnosticado com pancreatite.


A essa altura, o RPM também já tinha conquistado antipatia no Brasil e o meio musical já estava desapontado com a sucessão de decisões equivocadas da banda, como negar a entrada da música 'Partners' na novela 'Vale Tudo', da Globo, que teve como música de abertura a canção ‘Brasil’, de Cazuza.


Em comparação ao primeiro disco, ‘Quatro Coiotes’ foi um fracasso comercial pois vendeu 300 mil cópias, 12% das vendas do álbum ‘Rádio Pirata Ao Vivo’.


A metáfora mais utilizada pelos membros do RPM para descrever o motivo da banda ter acabado é um trem descarrilhado descendo ladeira abaixo. O excesso de trabalho, egos inflados, antipatia da mídia e do meio musical foram os responsáveis pelo fim da banda, mas as drogas são apontadas por muitos que eram próximas ao grupo como um intensificador dos outros problemas. Em fevereiro de 1989, o RPM fez o último show com a formação original.


O grupo ainda teve duas voltas bem-sucedidas, em 2002 e 2011. Em 2018, a banda voltou a atividade sem Paulo Ricardo. Atualmente, o único da formação original que permanece é o guitarrista Fernando Deluqui. Porém, o antigo vocalista abriu um processo para impedir que a banda utilize o nome ‘RPM’, afirmando que o novo grupo “não passa de um cover daquela que foi uma banda de sucesso nos anos 80 e 90, e que se aproveita da memória e do êxito do verdadeiro RPM”.

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