A cena musical independente está em constante transformação, com cada vez mais concorrência entre artistas e a dificuldade de alcançar a batida perfeita e o público perfeito.
Natural de Blumenau (SC), a cantora Beli Bertalha é mais uma entre essas artistas. Ela começou sua jornada artística com a arte de rua, apresentando-se em diversas cidades enquanto viajava. Antes disso, já compunha e cantava para amigos, mas sem encarar a música como uma possibilidade profissional.

Foi em Ouro Preto que sua carreira começou a tomar forma. Durante esse período, viajava com a artista Juliana Gatto, e juntas criaram o duo Libélula em Verso, um projeto que durou cerca de seis anos. O grupo lançou um álbum ao vivo e, posteriormente, o trabalho 'Das Solidões', que ganhou uma versão em formato de álbum visual. Com o fim do duo em 2022, Beli decidiu seguir carreira solo.
Ao se estabelecer em Antonina, no litoral do Paraná, buscou novos caminhos para sua sonoridade, explorando elementos eletrônicos e uma produção diferenciada, com menos instrumentos orgânicos. Para essa nova fase, contou com a colaboração da produtora musical Castel, formada por Denusa Castellain e Luís Fernando Diogo, que ajudaram a moldar a identidade sonora de seu novo projeto.
“Na parte do EP visual houve muito desafio porque eu era independente e chamei alguns amigos. Consegui grana só para o transporte e alimentação, porque os comerciantes da cidade me ajudaram com descontos”, revela.

A gravação dos cinco videoclipes que compõem o filme aconteceu em apenas três dias, exigindo adaptações no roteiro. “Foi aí que entrou a Lei Paulo Gustavo, do Estado do Paraná, e finalmente consegui concluir o filme.”
"Vão" é composto por "Vacilo", "Contradição", "Poeta da Chuva", "Esquiva-Te" e "Baila". Cada uma com sua particularidade e abordagem, com forte carga poética e social.
“Eu quis buscar músicas inéditas para falar da experiência de ser uma pessoa LGBT nascida em uma família tradicional do Sul. A gente reproduz padrões e, ao mesmo tempo, precisa se rever nesse lugar da violência”, explica.
A obra reflete sobre erros, aprendizados e questões sociais que atravessam sua trajetória.
Depois de anos de trabalho e desafios financeiros, considera uma conquista significativa poder materializar esse projeto e compartilhá-lo com o público. Seu objetivo segue sendo unir música e audiovisual de forma autêntica e acessível, ampliando cada vez mais o alcance de sua arte.
"Eu acho que essa questão da música independente é uma coisa que a gente leva com muita garra, vamos dizer, mas que eu acho que é legal quando gente tem um propósito, uma mensagem, vamos dizer assim, mesmo que seja através da música poética, e que eu acredito nisso, que aos poucos a gente vai conquistanto as pessoas e quem sabe levando um pouco dessas questões sociais que nos atravessam por meio da poesia, da musicalidade. E aqui eu estou muito feliz de estar colocando isso no mundo, porque foram alguns anos, algumas dificuldades financeiras e tudo mais, e poder trazer isso para o mundo, tornar isso palpável, material, é muito relevante para uma pessoa que é artista independente".