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Entrevista com Carlos Tomati, um dos heróis da guitarra brasileira

  • Foto do escritor: Guilherme Moro
    Guilherme Moro
  • 14 de out. de 2020
  • 9 min de leitura

Tomati é graduado no "GIT - Guitar Institute of Technology", na Califórnia e se destaca por sua versatilidade e conhecimento musical. Conhecido nacionalmente por ter integrado célebre "Sexteto do Jô" por 17 anos, ele falou sobre os principais trabalhos da carreira e sobre seus atuais projetos.


Foto: Marcelo Crelece


Blog Música Boa

Tomati, você iniciou na música aos sete anos de idade, tocando violão. Você acha que essa iniciação na música, ainda criança, te auxiliou a se tornar o músico de alto nível que é hoje?


Tomati

Creio que sim. Como qualquer coisa na vida, fazer algo por muito tempo te torna experiente e bom no que faz. Acho que meus pais ouviam muita música enquanto eu estava na barriga da minha mãe. Para tocar um instrumento musical é preciso ouvir muita música. O ouvido é a coisa mais importante na vida de um músico. Um bom músico é um excelente ouvinte. Ele sente as notas, se emociona com a harmonia.


Blog Música Boa

Qual foi a sua primeira guitarra? Como foi a adaptação do violão para o instrumento elétrico?


Tomati

Toquei violão por muitos anos. Minha primeira guitarra foi uma Ibanez Les Paul, Sunburst. A adaptação foi tranquila, o problema começou quando tomei conhecimento dos pedais de efeitos. Comecei a dar aulas com 14 anos e boa parte do meu dinheiro começou a ser gasto com eles.


Blog Música Boa

Suas primeiras bandas foram Contra Tempo e Jota Paulo & Seus Óculos Escuros. Quais eram as características musicais desses dois trabalhos e como os dois surgiram?


Tomati

Contra Tempo era uma banda formada por alunos do CLAM, escola do Zimbo Trio. A gente fazia um som instrumental, standards de jazz e música brasileira. Jota Paulo era uma banda de rock com vocal, composições próprias, covers etc. Era formada por um bando de malucos. Só fui entender o “& seus Óculos escuros”, do nome, muito tempo depois.


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Foi após se graduar no renomado GIT (Guitar Institute of Technology), em Los Angeles, que você começou a participar de uma maneira muito mais ativa do cenário musical do Brasil. Você acha que essa graduação lhe deu um reconhecimento maior entre os grandes artistas da época?



Tomati

Com certeza. Passei um ano estudando no Musicians Institute, por cerca de 15 horas diárias, todos os dias, com alguns dos maiores músicos do mundo. Quando voltei para o Brasil parecia que eu tinha feito uma faculdade de 10 anos. Mérito da escola e meu por ter estudado e aproveitado meu suado dinheiro. Foi um salto imenso no meu nível de conhecimento e experiência musical ao lado de grandes professores e profissionais da Música.


Blog Música Boa

Quais as maiores lembranças dessa grande experiência?


Tomati

O mais legal era ter guitarras, pedais, cabos e livros em um armário e poder entrar para fazer um som a qualquer hora do dia. Ela ficava aberta 24 horas. Era comum eu voltar de uma festa de madrugada, passar na escola, pegar minhas coisas no armário e fazer um som com alguém que estivesse lá estudando. Sempre tinha. Muitas vezes eu emendava em alguma aula da manhã. Uma vez passei o cartão para registrar minha saída e mostrou que eu tinha ficado umas 20 horas na escola. Coisa de quem gosta mesmo e perde a noção do tempo.


Blog Música Boa

Como foi a volta ao Brasil após esse período em terras americanas?



Tomati

De volta ao Brasil, após algumas canjas nos lugares certos com os músicos certos, meu nome foi sendo cogitado para várias situações de performances: Gravações de jingles, substituição de guitarristas em bandas de grandes artistas como “side man”, gravar vídeo aulas, patrocínios, aulas em faculdades, workshops etc.


Foto: Gustavo Arrais


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Ainda falando desse período, quais foram as campanhas publicitárias mais notáveis que você participou colocando suas linhas de guitarras?


Tomati

Toquei em vários jingles e participei como figurante e ator também em alguns comerciais para televisão como Shell, M200, Hollywood, Nestlê, Café Pilão, propagandas de cigarro, motos, achocolatados, Chevrolet e tantos outros que nem me lembro mais.


Blog Música Boa

Qual a importância dessa fase em sua carreira artística?


Tomati

Foi uma fase muito importante financeiramente. Ela terminou com o surgimento dos Samplers (equipamento que consegue armazenar e reproduzir amostras de sons numa memória). Quando os teclados começaram a ter lindos sons “sampleados” de guitarra, os pianistas começaram a gravar as guitarras no teclado e produtores pararam de gastar dinheiro com guitarristas de verdade. Isso prejudicou a sonoridade dos jingles e a qualidade de vida dos guitarristas.



Blog Música Boa

Quais foram os projetos musicais mais importantes que você fez parte, antes de integrar o Sexteto do Jô?


Tomati

Além dessas bandas que você citou, tive algumas bandas solo na escola dos EUA. No Brasil toquei na TNT (Todas na Trave), SubSolo (Trio com Cuca Teixeira e Edu Martins), fiz parte da banda do guitarrista Faiska, toquei com Eduardo Araújo, com Mauricio Mattar (que foi meu aluno de violão), Afonso Nigro do Dominó, Os Incríveis, Celso Pixinga (gravei dois discos), Albino Infantozzi (gravei um disco), gravei no disco da Angélica (musica “Um Love Lindo”), toquei nos discos da Roxy, Fatima Nascimento, Silas Fernandes e vários outros. Toquei na banda Rosa Mística, Katsbarnéa, Fafá de Belém (turnê pelo Brasil, Europa e África) e THT Tomati Homeless Trio (gravei um disco independente que foi lançado em 1998 no Jô Onze e Meia). Foram muitos projetos!


Tomati em gravação do Programa do Jô (Foto: Isabella Barbosa)


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Você entrou para o Sexteto oficialmente em 1998. Como se deu esse convite para ser integrante fixo da banda?


Tomati

Depois do sucesso da minha canja no Quinteto do programa Jô Onze e Meia, no SBT, o Jô Soares me pediu para substituir o guitarrista Rubinho, que estava hospitalizado. Aceitei, ele gostou muito e fazia planos para ter dois guitarristas na banda, mas infelizmente o guitarrista Rubinho faleceu antes do retorno das gravações e eu acabei ficando na banda.



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Em 1999 você gravou, juntamente com o Jô Soares e o restante do sexteto, o álbum “Jô Soares e O Sexteto - Ao Vivo no Tom Brasil”. Esse disco acabou se tornando histórico. Como foi aquela noite e de que maneira surgiu a ideia da criação desse projeto?


Tomati

Acho que essa é a fase que eu mais tenho saudade, quando a gente viajava com o Jô para tocar. Era incrível olhar para a plateia e ver grandes artistas assistindo nosso show e receber gênios como Edu Lobo no nosso camarim, entre muitos outros, é claro.

A ideia veio com a entrada do Trompetista Chico Oliveira na banda. O Jô voltou a praticar trompete e ter aulas com o Chico. Ele se animou e ao invés de um show de Humor no teatro ele escreveu e montou um show de jazz onde ele cantava as músicas que ele gostava. Tocava trompete e percussão. Após uma turnê pelo Brasil veio a proposta de uma gravadora e assim surgiu esse CD que tenho orgulho de ter feito. Fiz três arranjos para ele e o que mais gosto é o de metais que escrevi para a música “Making Woopie”.


Tomati e Jô Soares em uma Jam no "Programa do Jô

Foto: (Reprodução/Facebook)


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Foram 17 anos de Sexteto. Quais as Jams (apresentações de improviso) mais marcantes que você participou nesse período em que era fazia parte do programa?


Tomati

Fizemos muitas Jams, muitas não foram ao ar. Uma dessas foi quando Chick Corea (Pianista) se sentou no piano e tocamos juntos a música “Spain”, com o Derico no baixo. Foi Incrível. Acho que dá para imaginar que todas as participações no programa eram ensaiadas antes de gravar. Nos ensaios rolavam altas Jams, algumas super musicais e algumas com outras peculiaridades. George Benson, Joe Satriani, Ivan Lins, Ed Motta, Elza Soares, Emílio Santiago, Amy Irvin, Marcelo Adnet, Jorge Mautner, Ovelha, Padre Marcelo, etc; além de Jams de improviso, que foram milhares.


Jam de improviso com Kiko Loureiro


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Em 2000 você lançou o disco “Nascimento”, o primeiro de sua carreira como cantor e instrumentista. Como foi a produção desse disco?


Tomati

Esse disco foi a junção de ideias do produtor Thomas Roth, com as ideias do produtor Beto Ruschel. Ele foi gravado nas horas vagas dos estúdios Lua Nova, do Thomas Roth e onde gravei a maior parte dos Jingles que citei. Era para ser instrumental, mas o Beto queria que eu cantasse e assim foi. Gravei uma música do Thomas e uma do Beto. As duas muito lindas. Gravei em português, inglês e Italiano alguns clássicos da música brasileira. Por último gravamos “Carlos”, homenageando Carlos Santana (Guitarrista), que nunca ouviu, eu acho.


Blog Música Boa

De que maneira o avalia após 20 anos?


Tomati

É um disco belíssimo. Muito bem tocado com arranjos do pianista cubano, Pepe Cisneros. “Chove lá Fora” e “Carlos” tiveram arranjos meus. Esse disco tem lindos solos de guitarra e belos timbres também. É claro que em algumas músicas aparecem minhas deficiências como cantor. Talvez se tivessem passado pelo autotune (usado para disfarçar imprecisões e erros), como os “não cantores de sucesso” fazem, eu fosse considerado um dos maiores cantores do Brasil, mas eu não conseguiria carregar essa enganação por uma turnê com autotune. Então o que está lá, sou eu mesmo cantando e, honestamente, tem coisas muito boas no disco e ele me deu a experiência necessária para depois cantar no Lord’s Children.


Blog Música Boa

Atualmente, quais são os principais projetos do Tomati?


Tomati

Depois de passar 20 dias em coma e acordar mexendo só os olhos por causa do vírus H1N1, em 2013, meu projeto é sobreviver e continuar tocando minha guitarra, ainda mais agora com o Covid-19.


Blog Música Boa

Qual projeto musical você embarcou após sair do saudoso Sexteto?


Tomati

Após sair do Programa do Jô, fiz uma turnê animal pela ilha da Córsega, a quarta maior ilha do Mar Mediterrâneo por extensão, a convite do meu antigo aluno de violão, René Nunes. Fiz mais de 40 shows com sua banda ao redor da ilha, uma incrível experiencia quando não se domina o idioma francês. O lugar é maravilhoso. Os shows foram no alto verão, bares alucinantes a beira mar e vilarejos mais antigos que Napoleão. Havia super yachts (Barco luxuoso) e hotéis seis estrelas. Encontramos Marcus Miller e tocamos no vilarejo que a Glória Maria foi fazer uma reportagem para o Globo Repórter. Sentir de perto a paixão do Francês pela música brasileira, contribuiu com minha ideia de morar fora do Brasil tocando música brasileira, especialmente bossa nova, que é um estilo bem jazzístico, mas com guitarra.


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Atualmente, ao lado de Michelle Spinelli, você integra o Bossa Fusion Duo. Como surgiu a ideia de criar esse duo e de que maneira surgiu a oportunidade de fazer shows em terras internacionais?


Tomati

Meu maior ídolo na Música é o João Gilberto, então venho desenvolvendo, desde 2007, minha paixão pela música brasileira com a cantora Michelle Spinelli. Nosso gig é muito legal, gravo a harmonia enquanto ela canta e toca um shaker (instrumento de percussão) e depois solo em cima do loop (pedal de efeito). As vezes fazemos um arranjo na hora, um tipo de afinidade musical que só o tempo traz. O maior público para esse tipo de música brasileira está fora do Brasil. Nosso duo tem sido contratado para tocar em festivais de música pelo mundo. Tocamos no Brazilian Day na Suécia, em um festival de jazz na Dinamarca e abrimos um show do Hermeto Pascoal, também na Suécia, tocando com a banda do baixista Rubem Farias. Viemos aos Estados Unidos para começar a trabalhar e logo a pandemia chegou. Nada animador. Mesmo assim, já são mais de 40 Lives do Duo que estão disponíveis na nossa página do Facebook e no YouTube. Elas foram gravadas no sofá do apartamento e nos gigs (show) de reabertura, com máscara e restrições. O som não para! Já recebemos um convite para gravar no famoso Hyde Street Studio, na Califórnia, onde o Santana gravou nos anos 70. Tivemos algumas propostas de gravação aqui na Florida também. Vamos plantando Good Vibes.


Folder de divulgação referente ao show da Bossa Nova Fusion Duo, em terras internacionais


Blog Música Boa

Quais outros trabalhos você vem desenvolvendo em meio a pandemia?


Tomati

No início da pandemia liberamos o acesso aos vídeos do "Tomati Grupo de Estudo Musical", no Facebook, desde então, já são mais de dois mil membros. Tenho recebido muitos elogios e agradecimentos das pessoas que estão tendo a oportunidade de assistirem à várias aulas sem precisarem pagar por isso. Claro que os assuntos são referentes às dúvidas dos alunos na época, mesmo assim a galera tem curtido as lives, por isso também pretendo reativar as aulas ao vivo nesse grupo, em breve. Sou o novo integrante da banda Earth Code. Ela tem um som bem World Music, que também gosto muito. A gente estava tocando bastante antes da Covid-19, espero ansiosamente nosso retorno. Às vezes eu vou na casa do Thomas fazer companhia pra ele e gravamos uma live improvisada. Faço parte de um grupo de músicos da Flórida que está desenvolvendo um espaço para estudar, ensaiar, dar aulas, gravar e formar profissionais de Música. Ele se chama Brazza Music Center. Lá dou aulas de guitarra e prática de conjunto, em salas que permitem o distanciamento social. Também tenho feito uma Sessão de vídeos de bate-papo com amigos no meu canal do YouTube,Tomati Sessions USA. Muita estória e gente legal. Se inscrevam no canal e ativem o sininho para serem avisados quando estivermos ao vivo ou pintar um vídeo novo no canal, ok?! Quero gravar minhas composições desde “H1N1 - A Batalha” até as mais atuais, mas pra isso tenho que encontrar os músicos certos por aqui, já que minha família musical está no Brasil.


Blog Música Boa

Quais os equipamentos mais utilizados por você na estrada? Qual era seu set fixo nos tempos de Sexteto?


Tomati

Na minha fanpage têm fotos dos meus sets da época e atual. Basicamente um bom amplificador com reverb, um pedal de distorção, ou o footswitch (pedal) do amplificador, afinador, muito estudo e esmero. No momento meu set para o Bossa Nova Fusion Duo têm sido da direta pra esquerda seguindo o sinal de entrada da guitarra: Oitavador Oct3, Tube Screamer, Freeze, Loop, Volume, Delay, ligados em uma bateria recarregável. Uso um amplificador Roland Cube XL80, guitarra PRS SC 245 Golden Top, cordas Ernie Ball 0.10 e Mono Bags. Quando vou tocar com Earth Code ou outras vibes, uso o canal drive do amplificador, que já tem delay, ou levo meu Shred Master e um mini rack SE-70 com meus timbres antigos.


Set de pedais utilizado por Tomati no Bossa Nova Fusion Duo


Blog Música Boa

Foi incrível, Tomati! Obrigado pela honra!


Tomati

Obrigado a vocês do Música Boa pela oportunidade de compartilhar meus conhecimentos e experiências com os leitores do Blog. Muito sucesso a vocês!

 

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Alguns links onde você pode encontrar Carlos Tomati:



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