No dicionário, a palavra legado é definida como missão confiada a alguém por uma pessoa. Para além do que está escrito na página do Aurélio ou de qualquer outro glossário, o termo pode ser encarado como uma espécie de continuidade. No caso de Coluri, cantor e compositor que na última semana disponibilizou um EP homônimo, a definição paralela se encaixa perfeitamente. É que as três músicas inéditas que compõem o projeto são composições da própria família, que há anos são cantadas durante os almoços de domingo, churrascos e encontros. No calvário das noites em barzinhos desde 2014, o artista é filho de um cantautor, que também ralou muito as pontas dos dedos nos bailes da vida. Seu pai, vítima da pandemia de Covid-19, foi uma de suas grandes inspirações.

Em 2021, Coluri pôs sua viola no saco e deixou o sonho adormecido, retornando em 2024, já com o nome artístico que uma mistura as primeiras sílabas de seu sobrenome: Costa, Lucas e Ribeiro.
"É uma vida permeando a arte. A música. O Coluri especificamente, eu tenho brincado que é o meu último sprint. Tava meio adormecido. Tem a ver com essa história do legado mesmo que eu trago (...) Agora esse projeto, na verdade, são músicas que são da família. Do meu pai e do meu tio. Eu só resgatei elas e imprimi a minha marca, a minha textura, estética, digamos assim, meu jeito de interpretar nisso tudo", explicou.
“Via Satélite”, “Não Vou Voar" e “Janela Indiscreta" são a tríade que compõem o repertório do EP "Coluri", que viaja na sonoridade do soul, da música brasileira e até mesmo do pop.
As faixas, dotadas de sentimento e memória afetiva, são registros para além das intenções artísticas de Coluri. Tudo faz parte da continuidade, o que segundo ele, gera uma grande responsabilidade.
"É muito mais maduro esse projeto agora, porque ele, na verdade, são músicas que eu tô tocando desde a adolescência, da infância. Comecei a tocar com dez anos e já meio que com essas canções. Um privilégio meio único. Essas músicas não têm uma interpretação original. No caso, estou dando essa interpretação original até para aquela história do legado, que elas não morram, que elas permanecem. Então, foi uma responsabilidade bem grande", afirmou.
Para além das influências dentro de casa, o artista se inspira em nomes como Djavan, 5 a Seco, Lô Borges e outros que permeam a cena musical do país.
As inspirações tiveram espaço do EP "Coluri.Lar", disponibilizado no ano passado com cinco regravações: “Aviso aos Navegantes", “Diz pra mim”, “Boa Noite”, “Zero a Cem” e “Não existe amor em SP”.
Com a "missão legado" encaminhada, Coluri quer colocar seu bloco na rua e fazer com que as composições cheguem às pessoas. Para ele, esse é o maior desafio.
"A gente tá trabalhando muito nisso agora, até pra tomar decisões acertadas na hora de colocar projeto na rua. Essa questão do trabalho autoral ainda é um desafio. Uma pessoa sair de casa hoje ou que dirá pagar um ingresso para ver um artista de uma música que ele não conhece. É o maior desafio", finaliza.