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  • Foto do escritorGuilherme Moro

Ouvimos o novo álbum de Chitãozinho & Xororó; saiba os detalhes e nossa opinião

A extensa discografia de Chitãozinho & Xororó ganha um novo capítulo nesta sexta-feira. É que os irmãos vão lançar o álbum "José & Durval", o primeiro de inéditas desde 2009. O projeto é rotulado por eles mesmos como ousado e diferente de tudo que exploraram ao longo dos 54 anos de carreira. Este jornalista pode ouvir o álbum todo na íntegra, em uma audição exclusiva com a dupla, que mais parecia uma roda de conversa. Foi no Studio VIP, na Aclimação, que os irmãos convocaram poucas pessoas para conferir o trabalho. Durante o papo, eles fizeram suas considerações sobre as faixas e responderam perguntas de outros profissionais que estavam presentes. Estiveram também, para falar sobre a obra, os produtores musicais Cláudio Paladini e Felipe Vassão.


Paladini acompanha os irmãos há muitos anos, nas estradas e nos estúdios. Ele conhece como ninguém as particularidades musicais dos artistas.


Segundo Xororó, a ideia de chamar Vassão para co-produzir o disco veio de seu filho, Júnior Lima, que ouviu uma das demos e entendeu que a proposta do trabalho pedia um produtor com uma identidade mais pesada.


Conceito


Ousadia sempre esteve no vocabulário dos Meninos Passarinhos, mas o som sempre teve como Norte o que conquistaram ao longo dos anos, em respeito ao fiel público que os acompanha e à música sertaneja.


É para se "livrar" desta possível amarra que eles adotaram o nome de nascimento de ambos para dar nome ao álbum. Uma maneira criativa e respeitosa de driblar qualquer possível estranheza e fazer arte da forma que eles mesmos querem.


Mas não pense que tudo foi deixado de lado neste projeto. Está tudo ali: o dueto inconfundível, a sanfona em algumas faixas e o bom gosto nas músicas escolhidas. Xororó trouxe as ideias e o conceito do trabalho e Chitãozinho foi o responsável por preservar a identidade sonora da dupla durante o processo, mas claro, com desprendimento de rótulos.


Repertório


O repertório é composto por músicas guardadas no acervo do primeira voz ao longo da última década. Os arranjos foram ganhando identidade no decorrer do processo de produção.


Neste projeto, Ch&X mergulham em estilos já explorados, mas nunca com tanta profundidade. As músicas saem do cenário campestre de "A Tal da Paz" para o rock and roll de "Iceberg" em um curto intervalo. Quem conhece a discografia da dupla sabe que a guitarra sempre foi elemento importante nas canções, mas ela nunca havia aparecido com tanto destaque como em "A Gente Grita", que surpreende com um baita solo de guitarra, deixando muito roqueiro "no chinelo".


O repertório segue com faixas que flertam a todo momento com a música folk. É impressionante como eles conseguem ousar, sem deixar de lado a originalidade e as características que os acompanhar por anos a fio.


"Nossas Divergências", lado b da década de 1980, presente no álbum "Meu Disfarce", ganha um charme todo especial com um novo arranjo, adaptado para a década de 2020. As letras das canções têm abordagens diferentes, com caminhos e histórias que contam muitas versões, de uma forma parecida com que as músicas do EP "Tempo de Romance" (2020) contavam, mas sem a mesma ousadia no instrumental.


Chitãozinho destaca "Romance de FIlme", com participação de Simone Mendes. Ele considera a mais popular do disco.

Outros sons


Para conseguirem uma nova sonoridade dentro do estúdio, eles recrutaram músicos com uma linguagem mais "crua", digamos assim. É que sempre acostumados a trabalharem com nomes virtuosos, desta vez eles optaram por identidade sonora. É o caso da "cozinha", nome dado a união entre a bateria e o baixo no contexto de uma banda. Chitãozinho & Xororó trouxeram Marinho Lima e Dudinha para a gravação do projeto, dois músicos que trouxeram "a mão pesada" de forma muito presente no disco, como o própio Vassão afirma. Quem foi ao show de Ch&X sabe que nas polcas paraguaias como "Galopeira" e "Vá Para o Inferno Com Seu Amor", têm todas as bases feitas com guitarra distorcida, trazendo uma identidade única. Segundo Vassão, a ideia foi trazer isso para o disco, de uma forma que ainda não tinha sido explorada.


O mais perto que chegaram desta sonoridade foi no disco "Legado", vencedor do Grammy Latino, que havia sido lançado há alguns anos antes com o nome "Especial".


Um exemplo de como essa proposta funciona, é na releitura de "Solidão a Dois", lançada primeiramente com Victor & Léo, em 2018, e totalmente remodelada para o projeto.


Audiovisual


A locação escolhida para gravação das imagens foi um prédio em São Paulo, com uma atmosfera moderna, bem diferente dos outros audiovisuais e DVDs da dupla. As luzes com características de ribalta fazem o contraste perfeito durante o dia, quando o céu ainda está claro, e a noite preenchem a iluminação com leds coloridos.

Todos os clipes foram gravados de uma vez, em um final de tarde. Foram feitas trocas de figurino entre as músicas.

Considerações finais


"José & Durval" é um álbum para quem gosta de música. É para aquela pessoa que não se prende em gêneros específicos, livre de preconceitos e misturas entre arte e cenários políticos no universo da música.


A parceria com a Fresno, em "Camadas", é importantíssima neste sentido. Não existe polarização entre ideais ou interesses de gêneros musicais. Existe colaboração musical e contribuição artística, para ambos os lados.

Chitãozinho & Xororó trabalharam em cada uma das faixas entendendo o que cada uma delas precisava ser. "Iceberg" precisou virar um rock porque a música pedia. E assim foi com todas as outras músicas. Leitura de necessidade de cada obra guiou o projeto, até porque, a maioria delas estavam guardadas e precisavam ter ganhar identidade.


Outra colaboração do álbum é em "Nada Sou", com a banda japonesa Begin. Xororó se arrisca a cantar na lingua dos asiáticos e abre mais uma vez a porta que separa qualquer barreira musical.


54 anos depois que começaram o processo de revolução dentro da música sertaneja, o álbum chega no momento mais artificial que o sertanejo atravessa. Recheado de pseudo-artistas sedentos pelo Top 100 nas plataformas digitais.


Na contramão de toda essa correria, eles propõe continuar fazendo o que para eles é rotina desde que começaram a trabalhar: história.


A dupla merecia um álbum de inéditas depois de 15 anos. Os fãs e a música brasileira também. O projeto ganha vida na semana que os irmãos foram indicados ao Grammy Latino, pela primeira vez em uma categoria fora do universo sertanejo.


Há pouco mais de 10 anos, o foco dos irmãos passou a ser cuidar do legado construído ao longo das décadas, com carinho e paciência. Este álbum é mais um tijolo importante na preservação dessa história, mas sem deixar deixar de escrever novos capitulos.



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